A HISTÓRIA DA FANFARRA DA ARMADA
Em Agosto de 1740, segundo algumas fontes históricas já existia um conjunto musical no Regimento da Armada Real, aquartelados no Castelo de S. Jorge que interpretavam uma música marcial intitulada “Charamela” durante desfiles à frente das forças apeadas. Em 1793, documentos sobre a Armada Real referem que esta disponha de uma Charanga com 09 elementos que tocava as suas músicas à frente do 1.º Regimento de Infantaria de Desembarque. Em 27 de Novembro de 1807, aquando da 1.ª Invasão das tropas francesas de Napoleão, comandadas pelo General Junot, a Brigada Real da Marinha garantiu a segurança pessoal do Príncipe Regente D. João VI, respectiva família real, membros da corte portuguesa e funcionários do Estado, num total de 15.000 pessoas, na retirada estratégica para Brasil, embarcando no Porto de Belém numa Esquadra composta por 57 navios, protegida por naus britânicas. Nesta viagem a Charanga acompanhou a Família Real na sua viagem para o Brasil e à exceção de 02 elementos que regressaram a Portugal em 1821, os restantes foram integrados na Armada Brasileira, após Declaração de Independência pelo Imperador D. Pedro I. A 07 de Janeiro de 1837 é publicado o Decreto que cria o "Batalhão Naval", corpo militar com luxuosos uniformes desenhados por D. Fernando II (marido da Rainha D. Maria II), unidade militar que desfilava em passo oblíquo à maneira inglesa e que recebia o maior soldo entre todas as unidades militares nacionais existentes. Como unidade militar, o "Batalhão Naval" foi dotado em 1840 de:
Uma Charanga Marcial:
01 Timbalão;
10 Caixas;
05 Pífaros;
08 Cornetas de chave;
05 Clarins contraltos;
05 Clarins sopranos;
05 Baixões.
Uma Fanfarra
01 Tambor-mor;
01 Timbalão;
10 Caixas de guerra;
05 Clarins contraltos.
Todos os executantes exibiam uniformes coloridos e exista ainda um Tambor-mor, este último à frente da formação, apetrechado com Bastão-Compasso. Ambas unidades musicais eram dirigidas pelo Maestro alemão Mark Holzel, oriundo de um Regimento Prussiano, que deslocou-se para Portugal a pedido de D. Fernando II, que adotando conceitos prussianos introduziu novos instrumentos musicais, destacando-se um parecido com a actual lira. Em 22 de Outubro de 1851, por Decreto Régio o “Batalhão Naval” é extinto (incluindo o seu Tambor-mor), a sua guarnição de 1.200 Praças é dissolvida e distribuída pelo Exército e diversas classes da Armada, originando o “Corpo de Marinheiros Militares”. A própria Charanga Marcial é reduzida a 08 músicos e designada de «Charanga de Marinheiros», composta unicamente por instrumentos de bocal e percussão, não obstante em 3 de Abril de 1903 foram os primeiros a gravar um disco fonográfico em Portugal, nas instalações do Quartel do Corpo de Marinheiros. Em 1918, o Ministro da Marinha (Oficial Superior da Marinha de Guerra Portuguesa) decidiu substituir as cornetas por clarins, posteriormente ordenou a constituição de grupos de executantes com clarins de vários tons em vez de um só, passando a ser constituída por clarins sopranos, contraltos, baixos, cornetins, caixas de guerra e por um tambor de metal, como armamento os clarins eram munidos somente de Sabres.
Observando o disposto no livro "Corpo de Marinheiros da Armada" (compilação histórica que versa sobre o 1.º Centenário desta unidade: 1851- 1951), pelo ano 1937 do século passado, a Fanfarra foi recriada e organizada pelo Comandante Forteé Rebelo, por sugestão de clarins existentes na época, quase todos oriundos do ano de recrutamento 1930, em 1950 é novamente reorganizada pelo Comandante Flaseschen de Mendonça.
Nesta unidade usava-se antigamente uma corneta de cobre (bugle), sendo que as Praças da Marinha que a tocavam eram designados por Corneteiros-tambores, por tocarem também tambor (caixa de guerra), quando eram considerados pelos seus camaradas bons executantes, as guarnições de unidades de Fuzileiros e das unidades navais, ofereciam-lhe uma requinta de prata. Em 1968, a Portaria n.º 234 35 de 15 de Julho cria a classe de Mestre-clarins (Q) para Sargentos e Cabos e a classe de Fuzileiros-clarins (FZQ) que substituí a classe Marinheiros-clarins (na época com 73 elementos), sendo reduzido o respectivo curso de formação técnica e teórica de 09 para 03 meses de duração.
Em 1978 o Timbalão-mor é substituído por um Tambor-mor (FZQ), que utilizou o Bastão-Compasso do antigo Batalhão Naval, cedido pelo Museu da Marinha e posteriormente uma réplica, sendo integrado na Banda da Armada aquando de cerimónias de carácter militar, participando no mesmo ano no 1.º Festival de Bandas Militares no Restelo.
Atualmente à frente da formação da Fanfarra da Armada segue o Timbalão-mor, envergando por vezes uma pele de leopardo sobre a farda, em formato de avental, como outrora foi usado no século passado.
A Fanfarra já não é dotada de um elemento Tambor-Mor equipado com o Bastão-Compasso, em virtude da falta de recursos humanos suficientes na unidade para o efeito. No que concerne à estrutura organizacional, a Fanfarra tem uma lotação aprovada de 29 elementos, sendo 04 da categoria de Sargentos e 25 da categoria Praças.
A Fanfarra da Armada é atualmente chefiada por um Sargento-mor ou Sargento-chefe da classe de músicos, designado por “Mestre da Fanfarra”, coadjuvado por 02/03 Sargentos da classe de Fuzileiros com o curso de Requinta e Chefe de Terno. Na sua lotação compreende as seguintes funções e número de elementos por instrumento:
01 Timbalão-mor;
02 Timbalões pequenos;
02/04 Caixas de guerra;
01 Pratos;
13/15 Clarins sopranos (1.ª voz e 2.ª voz);
02 Clarins contraltos;
02 Clarins contrabaixos.
Presentemente nem todos os militares especializados em Clarim na Marinha são FZ’s, existem também neste momento dois M (manobra), um A (artilheiro), dois C (comunicações), e um TFP (padeiro) em virtude da formação em Clarins ministrada por elementos da Banda da Armada ter sido aberta em 2006, a outras especialidades existentes na Marinha Portuguesa. A Fanfarra da Armada desde da sua fundação é uma unidade independente da Banda da Armada, distinguindo-se em termos técnicos e na formação dos seus elementos, hoje em dia encontra-se na dependência direta do Comando do Corpo de Fuzileiros, integrada no Batalhão de Fuzileiros nº1, dentro da Unidade de Polícia Naval, e adstrita à Base de Fuzileiros. É da competência da Fanfarra da Armada providenciar entre 03 a 06 Requintas e Chefes de Terno para satisfazer todo o cerimonial militar a cargo da Marinha Portuguesa.
Tem capacidade para atuar com a totalidade dos seus efetivos ou dividida em pequenos grupos, denominados “Ternos de Clarins”, compreendendo de 03 a 09 elementos. Participa integrando a Banda da Armada ou atuando isoladamente em representação dos Fuzileiros e da Marinha Portuguesa, em diversas formalidades de cerimónias e eventos, quer de natureza religiosa, civil ou militar, a título de exemplo:
-
Procissões religiosas;
-
Juramento de Bandeira na Escola de Fuzileiros;
-
Juramento de Bandeira na Escola Naval;
-
Imposição de Boinas a novos fuzileiros;
-
Guardas de Honra;
-
Desfiles militares;
-
Pequenos concertos;
-
Festas populares;
-
Atividades marítimas;
-
A convite de Associações de Marinheiros
Nota: Este texto foi retirado do Blogue Barco à Vista, com a devida autorização do autor